O setor de distribuição de papel espera um mercado mais estável e menos pressionado por câmbio e matéria-prima em 2019. No ano passado, as vendas domésticas foram puxadas pelos segmentos de embalagens e papéis para fins sanitários (tissues).
“Esperamos mais estabilidade tanto do câmbio quanto da celulose. Tivemos uma subida do dólar do final de 2017 até o meio do ano seguinte. A matéria-prima avançou no 1º trimestre, mas agora já está mais estável, sem perspectiva de alta”, afirma o presidente do conselho diretor da Associação Nacional dos Distribuidores de Papel (Andipa), Vitor Paulo de Andrade.
A celulose passou por esse ciclo de aumentos de preços em razão do crescimento da demanda global, especialmente da China. O dirigente ressalta que um cenário menos turbulento será condicionado ao comportamento do dólar ao longo do ano. “Vai ter influência nessa estabilidade e isso passa pelo sucesso das medidas do novo governo federal.”
Andrade não acredita que o setor de papel enfrentará problemas de aumento de preços da celulose em 2019. “Um ou outro segmento pode estar com o valor defasado e terá que fazer um repasse, mas pelo atual nível de variação, não creio que deverá ser grande.” Durante o ano, o mercado gráfico foi pressionado pelos custos crescentes do papel e pelo consumo desaquecido e não conseguiu repassar o aumento de preço. Na avaliação da entidade, caso o ano seja tão turbulento quanto 2018, ao menos o setor estará menos vulnerável por estar mais ajustado. “Para o distribuidor de papel, deverá ser um ano melhor, com menos players, mas menos predatório. Estamos otimistas.”
Em 2018, o setor sofreu com a oscilação de preços, impactados pela variação do dólar e da celulose, somada ao fraco ritmo da economia brasileira.
De acordo com relatório da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o volume de vendas domésticas de papel totalizou 5 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a novembro, incremento de 0,9% em relação ao mesmo período de 2017. Os segmentos de imprimir e escrever (-0,5%) e imprensa (-10,6%) recuaram, enquanto embalagens (0,1%), papel cartão (5,7%) e tissue (2,9%) tiveram crescimento.
Para Andrade, dentro do contexto do ano, o desempenho foi razoável. “Esperávamos uma queda maior no segmento de imprimir e escrever. Embalagens cresceu e neste ano esperamos melhora para os dois mercados.”
Em entrevista recente ao DCI, o gerente de estudos econômicos da Pöyry, Manoel Neves, destacou que o papel para embalagem é diretamente beneficiado pela melhora do ambiente econômico. “É esperado um ciclo positivo e todo tipo de produto utiliza embalagens: alimentos, remédios, bens de consumo, entre outros.”
Neves também apontou que o segmento de papel tissue deverá se beneficiar da melhora do ambiente econômico. “É um setor diretamente ligado a renda, saúde e higiene, que já vêm crescendo.”
A Andipa destaca que em 2018, houve movimentos de consolidação e rearranjos na cadeia do papel, afetando empresas importantes. “Na ponta do consumo, a crise atingiu companhias dos setores de revistas e livrarias. Mas ainda não se tem a dimensão do impacto na demanda para o papel”, aponta Andrade, que acredita que a venda e a produção de livros não devem diminuir, mas migrar para outros players e canais.
Produção
De acordo com o levantamento do Ibá, a produção de papel totalizou 9,5 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a novembro do ano passado, o que representa estagnação em relação ao mesmo período de 2017. O desempenho foi negativo no segmento de embalagem (-1,8) e cresceu nos demais mercados, com destaque para o papel de imprensa (22,7%). De acordo com a Andipa, esse desempenho, a despeito do encolhimento dos jornais impressos, reflete a demanda internacional. “Na China, o papel jornal passou ser alternativa para a produção de outros tipos de papéis, como o cartão, depois que as regras ambientais mais rígidas proibiram a importação e uso de reciclados”, assinala a entidade em seu boletim de dezembro. Outro segmento de destaque foi o de papel cartão (3,7% de crescimento), utilizado em embalagens cartonadas e capas de livro. Na visão da Andipa, isso decorre da recuperação da economia.